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Capitulo V Sonho Xamânico (parte II - continuação)


A descer a colina em direcção ao rio, onde todos os ribeiros se unem, parei… olhei-me no espelho de água, já não reflectia só a minha imagem, agora via a minha alma reflectida naquelas límpidas águas. Tornava-me mais belo, agradável, simpático e afável a cada segundo de observação.

Reparei que não muito longe de mim erigiram montículos de pedras inteligentemente equilibradas de uma forma elegante, bela e harmoniosa. Como se a própria natureza as tivesse sabiamente colocadas numa construção “Gaudiana” lembrando a “Sagrada Família”.

Eram centenas, admirei-os um a um. Ainda não estava em mim da experiencia anterior, ainda sentia o ribombar dos tambores no meu peito, as vozes ainda ecoavam na minha mente, sentia que a experiencia tinha efectuado uma radical mudança no meu ser.

Agora, estes montes de pedras que me cumprimentavam, traziam outro tipo de paz, outro tipo de ligação à natureza e à suprema criatividade só disponível no ser humano.

Cada um maior que a outro, cada um com mais dificuldade do que o outro, cada um com uma “mensagem” diferente do outro. Contudo, todos perfeitos, todos iguais todos belos, todos apelativos à reflexão.

Era isso… reflexão. Quem quer que tenha feito este trabalho, procurava harmonia, equilíbrio e reflexão, numa busca interior e não a criação de um qualquer monumento do tipo de “Stone Edge” em miniatura. Não. Aquilo era fruto de uma busca incessante pela verdade, pela sua “verdade”, pelo sentido de equilíbrio entre o que somos e o que sentimos ser.

Comecei a achar quase doentio, centenas de construções de amontoados de pedras redondas de rio numa perfeita harmonia e equilíbrio. Algumas apresentavam marcas do tempo… do tempo em que sozinhas eram apenas pedras e nada mais.

Mesmo sendo apenas pedras, eu sabia… eu reconhecia que aquelas pequenas pedras teriam feito parte de uma pedra bem maior, tal como as nossas almas individuais – pequenas pedras – também fazem parte de algo muito maior e tal como as pedras… de difícil compreensão, visão ou entendimento. Com a diferença que as pedras… mesmo amontoadas jamais serão apenas uma.

Agachei-me sobre um monte delas… um monte belíssimo que começava dentro do rio e que me mostrava que o rio estava mais baixo, pois estando a água na segunda pedra, as marcas a acabavam na quinta… a contar do rio.

Levantei-me para seguir o meu caminho quando senti alguém ao meu lado, olhei surpreendido, sorriu-me.

- Bom dia – disse me um homem idoso (não velho) descalço com uma t-shirt sem mangas, calças arregaçadas, mãos enormes e um sorriso ainda maior.

- Bom dia – respondi-lhe. Estava aqui a observar estas obras que alguém se deu ao trabalho de edificar, para que de alguma forma outros pudessem admirar.

O homem sorriu – Fui eu, sou eu, serei eu… enquanto o criador me permitir, enquanto ele achar que o meu trabalho neste plano faz sentido.

- São montagens extraordinárias – retorqui – cada uma mais difícil e equilibrada do que a outra. Quando caminhava, repararei que o grau de dificuldade aumentava cada vez mais.

Olhou para o chão e sorriu, olhou-me nos olhos e explicou.

-Todas essas construções representam as fases da nossa própria vida. A força e a forma de construir a solução para os problemas que a vida nos apresenta… e quanto mais construímos soluções, mais a própria idade, conhecimento, resiliência e perseverança nos proporciona outro tipo de problemas e nós construímos outro tipo de soluções.

A experiencia ensina-nos a construir cada vez melhores soluções, mais correctas, mais finas e mais subtis.

Não que estes montes de pedra representem todos os meus problemas, graças ao universo, ainda não tive assim tantos na vida. Sou um homem simples, vivo da natureza e do que ela me proporciona. Estou sempre ligado ao cosmos daí a minha paz e o meu equilíbrio.

Estes amontoados são imensos, porque, para cada situação difícil com que me deparo, crio diversas soluções, daí ter preenchido este espaço desta forma tão imensa.

A paz e a tranquilidade adquirida fizeram com que acabasse por construir cada vez mais montes… cada vez mais complicados e de forma a já não me lembrar quais foram construídos como soluções e quais foram construídos por prazer.

Neste momento, o equilíbrio é interior, o meu conhecimento sobre a vida, a forma como divido o planetas com os demais seres já não me trás problemas, nem conflitos. Cada ser é um monte das minhas pedras… das pedras do rio em equilíbrio… ou a tentar equilibrar.

Mas, a cada momento, em cada ser que eu possa ajudar sem ser solicitado, posso mandar todo o equilíbrio ao chão... posso na verdade desequilibrar mais do que equilibrar.

Cada ser humano é um monte destes, tem a sua base mais larga e depois tem todas as outras pedras como experiencias. Quanto maiores forem as bases, quanto maiores forem os conhecimentos, mais largas serão todas as pedras, e assim, além de maior equilíbrio, maior será o monte, maior será o ser humano. Se pelo contrário a base for pequena, todas as outras se manterão mais pequenas e ainda que equilibradas, não crescerá tanto quanto se desejaria.

Contudo, com inteligência e versatilidade, podemos sempre deitar abaixo antigos paradigmas e desfazer o nosso monte de pedras, criar uma base maior, melhor e aprender. Aprendendo, escolhemos pedras do tamanho da nossa sabedoria e assim construiremos um monte mais sólido, mais alto e mais resistente... chama-se a isso a “Arquitectura da vida”.

A base… a base é sempre o mais importante... e a ultima pedra, a mais pequenina, a que só lá está para acabar o monte, aquela… que quase não se vê e que representará o teu orgulho, o teu ego, as tuas raivas, os teus medos, as raízes que ainda te ligam à animalidade. Essa será… em caso de desequilíbrio a primeira a cair… que é o que se pretende.

Ao ouvir estas palavra lembrei-me do pormenor que tinha reparado assim que cheguei.

- Vi algumas marcas em montes mais antigos que já estiveram mais submersos e agora estão expostos ao vento.

- Esses foram as primeiros montes. Os rios não têm marés… apenas seguem o seu curso, tal como todos nós, apenas seguem para o mar... tal como nós seguimos para a evolução. Mas o homem… sempre o homem... na sua “evolução material” passa por necessidades que eu já não tenho. O homem sente necessidade de prolongar o sol, de perpetuar o dia durante as suas vinte e quatro horas. Já não existe noite nas grandes cidades, as luzes prolongam os dias infinitamente e o homem precisa de energia eléctrica para as necessidades que ele próprio criou e se deixou escravizar.

As marcas que viste nos montes de pedras mostram que neste rio já passou mais água. É também a ambição desmedida de um ser que acredita que o seu criador colocou o planeta todo ao seu serviço, só para sua satisfação, colocou os animais todos para ele se alimentar e se divertir a matá-los, e mais… alguns acham mesmo que o criador até criou os outros homens para o servirem e satisfazerem as suas necessidades.

A escravatura humana já foi abolida da maioria dos locais deste planeta, mas está bem patente na cabeça de muitos homens que voltando ao planeta em fases reencarnatórias… ainda não aprenderam absolutamente nada.

Alguns montes de pedras também contam outras histórias… contam a história de rios ricos, cheios de vida, cheios de peixes, cheios de animais que se alimentavam, viviam e criavam vida nestas margens e até de homens que aqui viveram e respeitavam a natureza, muito antes de outros homens travarem o caminho dos animais do rio.

Como podes observar, existem aqui zonas com quantidades de algas enormes que morrem e apodrecem, poluindo ainda mais o rio. Os peixes que se alimentavam destas algas estão presos numa qualquer barragem ou foram mortos pela poluição das águas, das fábricas de criações superfulas. As algas continuam a fazer o seu propósito… crescer… só que… para nada.

O homem vive em constante desequilíbrio, ainda não entendeu que cada ser humano é composto por dois elementos que vão muito para além de qualquer ideia, compreensão ou concepção religiosa… o corpo e a alma… o material e o imaterial…o visível e o invisível… o profano e o divino… o animal e o sublime.

Por enquanto, ainda na maioria, quase sempre… vence o animal… e o animal só acredita no que vê. Sente se inseguro, tem medos… e não te esqueças… o homem é o único animal que sabe que vai morrer… todos os outros apenas vivem… o homem é o único que receia o seu final… e assim, com o facto do desconhecimento de outros mundos, outros planos… o homem cria o seu próprio mundo… um mundo em que só ele cabe… e o chama de “evolução” destruindo tudo à sua passagem… não entendendo quão longe está dessa mesma “evolução” que tanto almeja.

A luz e a verdade está a chegar aos poucos na consciência dos novos humanos que chegam e que alguns “rotulam” de “Indigos” e Cristais”, que mais não são do que almas antigas que voltam ao planeta para o reequilibrar. Alguns ficam admirados com a decisão de eles já não comerem carne e não compreenderem como se pode fazer mal a outro “alguém”, sendo que para eles… “alguém” são todos os outros seres que habitam este planeta.

A natureza é sábia… ela constrói sempre… mesmo quando vês um terramoto, um maremoto, um tsunami ou um vulcão… é a natureza a fazer a sua limpeza, a sua transformação… a evoluir. O homem apenas é vitima desses “desastres” porque se “apoderou” de todos os cantos do planeta como propriedade sua. Mesmo assim, o homem continua a sonhar em domar a natureza… mas, como quer domar seja o que for… se não a respeita, não a compreende e não a conhece.

Estes montes de pedra são fruto dessa mesma maravilhosa natureza, apenas me predispus a equilibrá-los. Espero que te tenham feito pensar e ajudado a compreender que tudo na vida só faz sentido e tem de ser pautado pelo equilíbrio.

Que o teu caminho seja sempre um caminho de luz e lembra-te… deixa a tua marca de amor nos outros… viemos do Amor, Cosmos, Criador, Universo, Deus… o que lhe quiseres chamar… e para lá voltaremos… não deixes que o desamor te persiga.

Sorri sempre para alguém… quem sabe se o teu sorriso é o único gesto de amor que essa pessoa vai receber esse dia?

Volta a este lugar quando quiseres, quando precisares, se eu já não existir... por certo ainda algumas destas pedras falarão por mim.


Luis Fernando Graça


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